domingo, 21 de abril de 2024

COMENTÁRIOS: A IGREJA SOMOS NÓS?



Por Edgar Leandro da Silva

Salve Maria Amigos e Amigas!

 

Cada Cristão pode até dizer: “Eu sou Igreja” mas essa sua identidade precisa condicionada á sua comunhão com a hierarquia dessa mesma Igreja, ou seja, da Igreja Católica.

Você não pode dizer: “Eu sou Igreja” e em seguida, por exemplo, defender o aborto, ou até mesmo o sexo fora do casamento por exemplo. Porque isso seria como se rebelar contra a hierarquia, além de assumir o risco de ser excomungado.

Com efeito, Nosso Senhor nos ensinou:

“Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão, Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de suas ou três testemunhas. Se recusa ouvi-los, dize-o á Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano(Mt 18,15-17)

O Evangelho se refere à Igreja com dois significados diversos e complementares:

Igreja “Povo de Deus” – e aí nós podemos dizer “A Igreja somos nós”; Logo,somos a Igreja sim,desde que unidos á hierarquia.

Igreja instituição hierárquica – e aí já não vale mais dizer “A Igreja somos nós”, pois se refere somente ao Magistério exercido pelos chefes da Igreja, em especial, Pedro e seus Sucessores, além dos demais bispos.

Portanto, os meios de Salvação passam, necessariamente, pela Igreja visível, solidamente fundada em uma hierarquia. Então, é muita arrogância um cristão dizer “eu sou Igreja” como forma de negar a necessidade de seguir a Igreja institucional, (esse é o mesmo tipo que costuma dizer: “só a Bíblia basta para a minha salvação”).

 

O que é a Igreja? Essencialmente, a Igreja é a comunhão sobrenatural dos que creem no Cristo. Cada fiel, pecador ou santo, é membro do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Cristo é a Cabeça deste Corpo. Então, cada cristão pode dizer corretamente: “A Igreja somos nós”. O problema é tem muita gente viajando na maionese, pervertendo essa máxima para negar a existência de uma Igreja hierárquica.

 

Ad Majorem Dei Gloriam,

EDGAR LEANDRO DA SILVA

FONTE: SITE O CATEQUISTA


OBS: Poderá haver alteração neste artigo.


domingo, 14 de abril de 2024

VIDA DE SANTOS: SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

 



Santo Afonso de Ligório, Doutor da Igreja, Fundador, Bispo zeloso, grande moralista

Carreira brilhante, o melhor partido do reino de Nápoles, Santo Afonso abandona tudo para se dedicar à salvação das almas, tornando-se um luzeiro da Igreja

Os de Liguori existiam em Nápoles antes mesmo de ali haver reis. José de Liguori aliava a piedade à bravura, e Ana Cavaliere era, por assim dizer, a própria paciência e douçura. Da união do casal, no dia 27 de setembro de 1696, nascia Afonso-Maria Cosme Damião Miguel de Liguori. Com nove anos foi admitido na Congregação de Jovens Nobres do Oratório; aos 12, era um santo em miniatura, tal como foi formado por sua mãe: piedoso, recolhido, amigo das orações e inimigo obstinado do erro. Aos 13, tocava cravo com perfeição; aos 14, empreendeu viagem rumo ao doutorado, através da floresta inextricável das leis napolitanas, compostas de códigos herdados de dez povos diferentes. Prestou exame aos 16 anos (a idade mínima era 20), e foi aprovado por unanimidade. Aos 18, passa para a Congregação dos Doutores, e na década que se seguiu não perdeu nenhuma causa.

Não havia partido nem carreira mais brilhantes. O pai colocou duas princesas em seu caminho: uma, Deus encaminhou ao Carmelo, e a outra se afastou por não ser correspondida.

Resistências enormes, uso de influências, nada quebra o apelo que a voz interior lhe fez: "Deixe o mundo e entregue-se todo a Mim". Aos 27 anos, o primogênito dos Liguori troca o hábito secular pela libré de Nosso Senhor.

Uma elite de santos decididos

Como diácono-catequista e pregador, arrastava as pessoas e inflamava nas almas o amor de Deus e o ódio ao pecado. Como sacerdote, tinha o dom de fazer as almas compreenderem a excelência da virgindade e do estado religioso. Após uma pregação, 15 jovens se decidiram pelo claustro. Sua palavra tinha tal poder que abatia os pecadores mais obstinados.

A primeira tentativa para fundar a Congregação do Santíssimo Redentor claudica. Recomeça, com a convicção de que Deus o queria como fundador. Novas esperanças, novos tropeços. Afonso entendeu que não deveria ter uma congregação com muitos membros, mas com "uma elite de santos decididos, como os apóstolos, a dar suas vidas para pregar o reino de Deus e salvar as almas". De fato, em 1764, ainda durante a vida do fundador, a congregação já contava com sete membros mortos em odor de santidade!

Confessaria, mais tarde, que freqüentemente conversava com a Mãe de Deus, e que Ela lhe dava muitos conselhos concernentes a assuntos da congregação e lhe dizia muitas e belas coisas.

O reino de Nápoles inteiro viu as maravilhas dos novos missionários e também os desastres. Uma revolução de calúnias obriga-os a fugir, em 1737. Fato curioso, todos os cabeças dessa perseguição tiveram mortes que chamaram a atenção: pavorosos gritos, atrozes convulsões, e membro que seca ou que é devorado pelos vermes.

Sua paixão: salvar almas

Aos 54 anos, o povo de Nápoles tinha sob seus olhos um verdadeiro santo, poderoso em obras e em palavras, humilde e doce como o Mestre. Apesar de suas ocupações e preocupações, passava um tempo considerável aos pés do Santíssimo Sacramento, onde preparava os discursos e hauria forças para subir ao púlpito, mesmo quando seu corpo quebrado pela fadiga ou pelo sofrimento parecia se recusar.

Apóstolo de um reino e fundador, tinha uma paixão, que era de salvar as almas, e que não lhe permitia tomar um instante de repouso. Sob a ação do fogo que o devorava, aumentava sempre seu campo de trabalho e de combate. O amor de Deus, aliado ao voto heróico de nunca perder uma parcela de tempo, a não ser para o apostolado, centuplicava suas forças.

"Glórias de Maria", escrito em homenagem a Nossa Senhora, inaugurava sua luta antijansenista e antivoltairiana (Voltaire, o ímpio escritor francês - 1694-1778).

Fundador, Bispo, orador, moralista, apologista, místico era também poeta e artista, pois ainda hoje, através dos vales e montanhas italianos, seus cânticos populares ecoam e conservam o frescor da juventude.

Quando Afonso leu a carta do Papa nomeando-o Bispo, ficou mudo, aterrado como um homem atingido por um raio. Grossas lágrimas saíam de seus olhos. Sem perder tempo, arrolou todos os argumentos que imaginava serem suficientes para o Papa aceitar a renúncia: 66 anos, doente, surdo, coxo, quase cego, asmático. Além do mais o escândalo que daria aos seus irmãos, vendo-o levar a cruz e o báculo! De nada valeu. O Papa tinha suas razões.

Como Bispo de Santa Ágata, perseguiu implacavelmente o erro onde ele se encontrava, até nos últimos refúgios. Era doce e paciente quando se tratava de injúrias pessoais, mas sentia em si vivamente a afronta a Deus e o dano causado às almas, e agia em conseqüência. Em dois anos a diocese sofreu uma transformação completa. A piedade reentrava nos santuários, a palavra apostólica nas cátedras e a ciência nos confessionários.

Até os vulcões lhe obedecem

Em 1768 é atacado por uma febre misteriosa, e dores fortíssimas se propagam pelas articulações, obrigando-o a curvar a cabeça até encostar o queixo no peito. Como Deus lhe conservava a inteligência e a mão, escreve: "A verdade da fé", "História das heresias e sua refutação", "Triunfo da Igreja", "Considerações sobre a Paixão", "Vitória dos Mártires", etc.

Nesse corpo desfeito ardia sempre o coração do apóstolo. O fogo do zelo se tornava dia a dia mais ardente. Um pedido seu fez chover; um sinal da Cruz repôs as lavas do Vesúvio dentro da cratera.

Os últimos anos seriam de grandes dores e horripilantes tempestades. Se alguma vez Deus o conduzia ao Thabor, seria apenas para ajudá-lo a subir o Calvário. Em 1770, o Papa, baseado em falsos relatórios e fatos adulterados, assinou um decreto que significava sua exclusão da Congregação. Recebeu a notícia sereno, mas depois sofreu uma terrível tentação de desespero, pensando que foi por culpa de seus pecados.

Isolado do mundo pelo enfraquecimento do corpo e dos sentidos, extenuado pelos longos sofrimentos e macerações, coberto de enfermidades, surdo, quase cego, incapaz de se mover sem ajuda, não sobrava a este ancião, pregado a uma cadeira de rodas, senão a chama sempre ardente do divino amor.

Todos queriam uma relíquia

Na noite da alma não faltaram as tentações assustadoras contra a fé, a pureza, a humildade e a esperança. Dizia que se sentia como um homem moído sob os golpes da justiça de Deus.

Seus últimos dias foram cheios de êxtases, de dons sobrenaturais, de visão das coisas ocultas, de discernimento dos espíritos, de profecias e milagres. Quando se soube de sua doença mortal, as orações foram incessantes, e também a procura de qualquer coisa que lhe pertencia, para ser tida como relíquia.

No dia 1º de agosto de 1787, no momento em que os sinos tocavam o Angelus, entregava sua alma a Deus. Seu corpo, apesar do calor e da gangrena ocorrida na ferida que o queixo criara sobre o peito, e que precipitou sua morte, não exalava nenhum mau odor e se manteve flexível. A multidão se aproximava com terços, escapulários, medalhas e flores, para os transformar em relíquias.

Desaparecia nas vésperas da Revolução Francesa, que se abateu sobre os altares e os tronos e votou ao desprezo Jesus Cristo, sua Igreja, seus sacerdotes e seus religiosos. Mas os santos não morrem: seus ossos, suas vestimentas, suas menores relíquias operam efeitos que ultrapassam o poder dos reis. Mais de 50 pessoas foram curadas, instantaneamente, pelo simples contato com alguma relíquia sua, nos anos que se seguiram.

Na madrugada de 26 de maio de 1839, 101 tiros de canhão anunciavam sua solene canonização pelo Papa Gregório XVI. Pio IX o proclamaria como Doutor excelente, luz da Santa Igreja.

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Fonte de referência:

Pe. Berthé, CSSR -- Saint Alphonse de Liguori, tomos I e II -- Librairie de la Sainte-Famille, Paris, 1906.

 

OBS: OS DESTAQUES SÃO MEUS. 


domingo, 7 de abril de 2024

CARTA ENCÍCLICA INSCRUTABILI DEI CONSILIO

 


CARTA ENCÍCLICA
INSCRUTABILI DEI CONSILIO
DE SUA SANTIDADE O
PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM GRAÇA E COMUNHÃO
COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE OS MALES DA SOCIEDADE MODERNA,
SUAS CAUSAS E SEUS REMÉDIOS

 

Veneráveis Irmãos,
Saudação e Bênção Apostólica.




INTRODUÇÃO

1. Apenas elevado, por um impenetrável desígnio de Deus, e sem o merecer, ao fastígio da Dignidade Apostólica, sentimo-Nos impelido por um vivo desejo e por uma espécie de necessidade a dirigir-Nos a Vós por carta, não somente para vos manifestar os sentimentos da Nossa profunda afeição, mas ainda para cumprir junto a Vós, chamados que fostes a compartilhar a Nossa solicitude, os deveres do cargo que Deus nos confiou, animando-vos a sustentar conosco os combates dos tempos atuais pela Igreja de Deus e pela salvação das almas.

I. OS MALES DA SOCIEDADE

2. Efetivamente, desde os primeiros instantes do Nosso Pontificado, o que se oferece aos Nossos olhares é o triste espetáculo dos males que de todas as partes acabrunham o gênero humano: é essa subversão geral das verdades supremas que são como que os fundamentos em que se apóia o estado da sociedade humana; é essa audácia dos espíritos que não podem suportar nenhuma autoridade legítima; é essa causa perpétua de dissensões de onde nascem as querelas intestinas e as guerras cruéis e sangrentas; é o desprezo das leis que regulam os costumes e protegem a justiça; é a insaciável cupidez das coisas que passam e o esquecimento das coisas eternas, levados ambos até esse furor insensato que por toda parte induz tantos infelizes a levarem sobre si mesmos, sem tremerem, mãos violentas; é a administração inconsiderada da fortuna pública, o esbanjamento, a malversação, como também a impudência dos que, cometendo as maiores espertezas, se esforçam por dar-se a aparência de defensores da pátria, da liberdade e de todos os direitos; é, enfim, essa espécie de peste mortal que, insinuando-se nos membros da sociedade humana, não deixa a esta repouso e lhe prepara novas revoluções e funestas catástrofes.

II. A CAUSA DESSES MALES

3. Ora, havemo-Nos convencido de que esses males têm a sua principal causa no desprezo e na rejeição dessa santa e augustíssima Autoridade da Igreja que governa o gênero humano em nome de Deus, e que é a salvaguarda e o apoio de toda autoridade legítima. Os inimigos da ordem pública, que perfeitamente o têm compreendido, pensaram que nada era mais próprio para subverter os fundamentos da sociedade do que atacar sem trégua a Igreja de Deus, do que torná-la odiosa e odiável por meio de vergonhosas calúnias, representando-a como inimiga da verdadeira civilização, do que enfraquecer-lhe a autoridade e a força por meio de feridas incessantemente renovadas, e do que derrubar o poder supremo do Pontífice romano, que é neste mundo o guarda e o defensor das regras eternas e imutáveis do bem e do justo. Daí, pois, saíram essas leis subversivas da divina constituição da Igreja Católica, leis cuja promulgação na maioria dos países temos de deplorar; daí promanaram o desprezo do poder espiritual, e os entraves opostos ao exercício do ministério eclesiástico, e a dispersão das Ordens religiosas, e o confisco dos bens que serviam para sustentar os ministros da Igreja e os pobres; daí, ainda, o resultado de haverem sido subtraídas à salutar direção da Igreja as instituições públicas consagradas à caridade e à beneficência; daí essa liberdade desenfreada de ensinar e de publicar tudo o que é mal, ao passo que, contrariamente, de toda maneira se viola e se oprime o direito da Igreja à instrução e à educação da juventude. E outro não foi o fim que os homens se propuseram apoderando-se do Principado temporal que a Divina Providência havia longos séculos concedera ao Pontífice romano para que este livremente e sem peias pudesse, para a salvação eterna dos povos, usar do poder que Jesus Cristo lhe conferiu.

III. REMÉDIOS PARA OS MALES

4. Se relembramos, Veneráveis Irmãos, esses funestos e inúmeros males, não é para aumentar a tristeza que por si mesmo faz nascer em Vós tão deplorável estado de coisas; mas é por compreendermos que, à vista disso, reconhecereis qual é a gravidade da situação que reclama o Nosso ministério e o Nosso zelo, e com que solicitude devemos, nestes tempos inditosos, trabalhar para defender e garantir com todas as Nossas forças a Igreja de Cristo e a dignidade da Sé Apostólica atacada por tantas calúnias.

Caridade fraterna

5. Bem claro e evidente é, Veneráveis Irmãos, que à causa da civilização faltam fundamentos sólidos se ela não se apóia nos princípios eternos da verdade e nas leis imutáveis do direito e da justiça, se um amor sincero não une entre si as vontades dos homens e não regula felizmente a distinção e os motivos dos seus deveres mútuos. Ora, quem ousaria negá-lo? Não foi a Igreja quem, pregando o Evangelho entre as nações, fez brilhar a luz da verdade no meio dos povos selvagens e imbuídos de superstições vergonhosas, e quem os reconduziu ao conhecimento do divino Autor de todas as coisas e ao respeito de si mesmos? Não foi a Igreja quem, fazendo desaparecer a calamidade da escravidão, revocou os homens à dignidade da sua nobilíssima natureza? Não foi ela quem, desfraldando sobre todas as plagas da terra o estandarte da Redenção, atraindo a si as ciências e as artes ou cobrindo-as com a sua proteção, por suas excelentes instituições de caridade, onde todas as misérias acham alívio, por suas fundações e pelos depósitos cuja guarda aceitou, em toda parte civilizou nos seus costumes privados e públicos o gênero humano, reergueu-o da sua miséria e formou-o, com toda sorte de desvelos, para um gênero de vida conforme à dignidade e à esperança humanas? E agora, se um homem de espírito são comparar a época em que vivemos, tão hostil à Religião e à Igreja de Jesus Cristo, com aqueles tempos tão felizes em que a Igreja era honrada pelos povos como uma Mãe, convencer-se-á inteiramente de que a nossa época cheia de perturbações e destruições se precipita direitinho e rapidamente para a sua perda, e que aqueles tempos foram tanto mais florescentes em excelentes instituições, em tranqüilidade da vida, em riqueza e em prosperidade, quanto mais submissos ao governo da Igreja e quanto mais observantes das suas leis se mostraram os povos. E, se os bens numerosos que acabamos de relembrar e que deveram o seu nascimento ao ministério da Igreja e à sua influência salutar, são verdadeiramente obras e glórias da civilização humana, muitíssimo longe está, pois, que a Igreja de Jesus Cristo abomine a civilização e a repila, visto ser a si, pelo contrário, que ela crê caber inteiramente a honra de lhe haver sido a nutriz, a mestra e a mãe.

6. Bem mais: essa espécie de civilização que, ao contrário, repugna às santas doutrinas e às leis da Igreja, não passa de uma falsa civilização, e deve ser considerada como um vão nome sem realidade. É esta uma verdade de que nos fornecem prova manifesta esses povos que não viram brilhar a luz do Evangelho; na vida deles podem-se ter vislumbrado algumas falsas aparências de educação mais cultivada, porém os verdadeiros e sólidos bens da civilização não prosperariam neles.

Respeito à autoridade da Igreja

7. Com efeito, não se deve considerar como civilização perfeita a que consiste em desprezar audaciosamente todo poder legítimo; e não se deve saudar com o nome de liberdade a que tem por cortejo vergonhoso e miserável a propagação desenfreada dos erros, o livre saciamento das cupidezes perversas, a impunidade dos crimes e dos malfeitores e a opressão dos melhores cidadãos de toda classe. Esses são princípios errôneos, perversos e falsos; não poderiam, pois, certamente ter força para aperfeiçoar a natureza humana e fazê-la prosperar, pois o pecado torna os homens miseráveis (Prov 14, 34); pelo contrário, absolutamente inevitável se torna que, após haverem corrompido as mentes e os corações, pelo seu próprio peso esses princípios lançam os povos em toda sorte de desgraças, que subvertem toda ordem legítima e conduzem assim, mais cedo ou mais tarde, a situação e a tranqüilidade pública à sua última perda.

8. Ao contrário, se contemplarmos as obras do Pontificado Romano, que pode haver de mais iníquo do que negar quanto os Pontífices Romanos têm nobremente e bem merecido de toda a sociedade civil? Nossos predecessores, com efeito, querendo prover à felicidade dos povos, empreenderam lutas de todo gênero, suportaram rudes fadigas e nunca hesitaram em se expor a ásperas dificuldades; de olhos fitos no céu, não abaixaram a fronte ante as ameaças dos maus, nem cometeram a baixeza de se deixarem desviar do seu dever, fosse pelas lisonjas, fosse pelas promessas. Foi esta Sé Apostólica quem apanhou os restos da antiga sociedade destruída e os reuniu juntos. Ela foi também o facho amigo que iluminou a civilização dos tempos cristãos; a âncora de salvação no meio das mais terríveis tempestades que tenham agitado a raça humana; o vínculo sagrado da concórdia que une entre si nações afastadas e costumes diversos; ela foi enfim o centro comum onde se vinha buscar tanto a doutrina da fé e da religião quanto os auspícios de paz e os conselhos dos atos a cumprir. Que mais? É uma glória dos Pontífices Romanos a de se haverem sempre e sem trégua oposto como uma muralha e um baluarte a que a sociedade humana tornasse a cair na superstição e na antiga barbárie.

9. Mas, oxalá que essa autoridade salutar nunca tivesse sido desprezada ou repudiada! Não teria então o poder civil perdido essa auréola augusta e sagrada que o distinguia, que a religião lhe dera, e que é só o que torna o estado de obediência nobre e digno do homem; não se teriam visto atear-se tantas sedições e guerras que foram a causa funesta de calamidades e morticínios; e tantos reinos, outrora tão florescentes, tombados hoje do fastígio da prosperidade, não estariam esmagados sob o peso de toda sorte de miséria. Temos ainda um exemplo das desgraças acarretadas pelo repúdio da autoridade da Igreja nos povos orientais que, quebrando os laços dulcíssimos que os uniam a esta Sé Apostólica, perderam o esplendor da sua antiga reputação, a glória das ciências e das letras e a dignidade do seu império.

10. Ora, esses admiráveis benefícios que a Sé Apostólica derramou sobre todas as plagas da terra, e de que fazem fé os mais ilustres monumentos de todos os tempos, foram especialmente sentidos por esta terra da Itália que tirou do Pontificado Romano frutos tanto mais abundantes quanto, em razão da sua situação, se achava ela mais próxima dele. É com efeito, aos Pontífices Romanos que a Itália deve reconhecer-se devedora da glória sólida e da grandeza com que brilhou no meio das outras nações. A autoridade e os desvelos paternais deles várias vezes a protegeram contra os vivos ataques dos inimigos, e foi deles que ela recebeu o alivio e o socorro necessário para que a fé católica fosse sempre integralmente conservada no coração dos Italianos.

11. Estes méritos dos Nossos predecessores, para não citar outros, são-Nos atestados sobretudo pela história dos tempos de S. Leão Magno, de Alexandre III, de Inocêncio III, de S. Pio V, de outros Pontífices, pelos cuidados e sob os auspícios dos quais a Itália escapou à última destruição de que estava ameaçada pelos bárbaros, conservou intacta a antiga fé, e, no meio das trevas e das barbarias de uma época mais grosseira, desenvolveu a luz das ciências e o esplendor das artes, e as conservou florescentes. São-Nos eles atestados ainda por esta santa cidade, sede dos Pontífices, a qual deles tirou esta grande vantagem não somente de ser a mais forte cidadela da fé, mas ainda de haver granjeado a admiração e o respeito do mundo inteiro, tornando-se o asilo das belas artes e a mansão da sabedoria. E, como a grandeza destas coisas foi transmitida à lembrança eterna da posteridade pelos monumentos da história, fácil é compreender que só por uma vontade hostil e por uma indigna calúnia, empregadas ambas em enganar os homens, é que se tem feito acreditar, pela palavra e pelos escritos, ter sido esta Sé Apostólica um obstáculo à civilização dos povos e à prosperidade da Itália.

Restauração do Poder Temporal dos Papas

12. Se, pois, todas as esperanças da Itália e do mundo inteiro estão colocadas nessa força, tão favorável ao bem e à unidade de todos, de que goza a autoridade da Sé Apostólica, e nesse vínculo tão estreito que une todos os fiéis ao Pontífice Romano, compreendemos que nada devemos ter mais a peito do que conservar religiosamente intacta a dignidade da Cátedra Romana e estreitar cada vez mais a união dos membros com a cabeça e a dos filhos com seu Pai.

13. É por isso que, para manter antes de tudo, tanto quanto está em Nosso poder, os direitos da liberdade desta Santa Sé, jamais cessaremos de combater para conservar à nossa autoridade a obediência que lhe é devida, para afastar os obstáculos que impedem a plena liberdade do Nosso ministério e do Nosso poder, e para conseguir o retorno àquele estado de coisas em que os desígnios da Divina Sabedoria haviam outrora colocado os Pontífices Romanos. E não é, Veneráveis Irmãos, nem por espírito de ambição, nem por desejo de domínio que somos impelidos a pedir esse retorno; mas sim pelos deveres do Nosso cargo e pelos compromissos religiosos do juramento que Nos liga: ademais, somos a isso impelido não somente pela consideração de que esse principado Nos é necessário para defender e conservar a plena liberdade do poder espiritual, como ainda porque tem sido plenamente verificado que, quando se trata do Principado temporal da Sé Apostólica, é a própria causa do bem público e da salvação de toda a sociedade humana que está em questão. Daí se segue que, em razão do dever do Nosso cargo, que nos obriga a defender os direitos da Santa Igreja, não Nos podemos dispensar de renovar e de continuar nesta carta as declarações e os protestos que o Nosso predecessor Pio IX, de santa memória, várias vezes formulou e renovou, tanto contra a ocupação do poder temporal como contra a violação dos direitos da Igreja Romana. Volvemos ao mesmo tempo Nossa voz para os príncipes e para os chefes supremos dos povos e instantemente lhes suplicamos, pelo augusto nome do Deus poderosíssimo, não repelirem o auxilio que a Igreja lhes oferece em momento tão necessário, cercarem amistosamente, como de desvelos unânimes, esta fonte de autoridade e de salvação, e a ela se prenderem cada vez mais pelos laços de um amor estreito e de um profundo respeito. Faça o céu que eles reconheçam a verdade de tudo o que havemos dito, e se persuadam de que a doutrina de Jesus Cristo, como dizia Santo Agostinho, é a grande salvação do país quando as pessoas conformam a ela seus atos (Ep. 138)! Possam eles compreender que a sua segurança e tranqüilidade, tanto como a segurança e a tranqüilidade públicas, dependem da conservação da Igreja e da obediência que lhes prestarem, e aplicar então todos os seus pensamentos e todos os seus cuidados a fazer desaparecer os males de que a Igreja e seu Chefe visível são afligidos! Possa daí, enfim, resultar que os povos que eles governam entrem na trilha da justiça e da paz, e gozem de uma era feliz de prosperidade e de glória.

Fidelidade à Santa Sé Apostólica

14. Querendo também, em seguida, manter cada vez mais estreita a concórdia entre todo o rebanho católico e seu Pastor supremo, com afeto particular aqui Vos concitamos, Veneráveis Irmãos, e vos exortamos calorosamente a, pelo Vosso zelo sacerdotal e pela Vossa vigilância pastoral, inflamardes do amor da religião os fiéis que Vos são confiados, a fim de que eles se prendam cada vez mais estreitamente a esta Cátedra de verdade e de justiça, a fim de que aceitem todos a doutrina dela com a mais profunda submissão de espírito e de vontade, e a fim de que rejeitem, enfim, absolutamente todas as opiniões, mesmo as mais difundidas, que souberem ser contrárias aos ensinamentos da Igreja. Sobre este assunto, os Pontífices Romanos Nossos predecessores, e em particular Pio IX, de santa memória, sobretudo no concilio do Vaticano, tendo incessantemente diante dos olhos estas palavras de S. Paulo: Vede que ninguém vos engane por meio da filosofia ou de um vão artifício que seja segundo a tradição dos homens ou segundo os elementos do mundo, e não segundo Jesus Cristo (Col 2, 8), todas as vezes que se tornou necessário não descuraram reprovar os erros que irrompiam e fulminá-los com as censuras apostólicas. Nós também, seguindo as pegadas dos Nossos predecessores, confirmamos e renovamos todas essas condenações do alto desta Sé Apostólica de verdade, e ao mesmo tempo pedimos vivamente ao Pai das luzes faça com que todos os fiéis, inteiramente unidos num mesmo sentimento e numa mesma crença, pensem e falem absolutamente como Nós. O Vosso dever, Veneráveis Irmãos, é empregardes os Vossos desvelos assíduos em espalhar ao longe no campo do Senhor a semente das celestes doutrinas, e em fazer penetrar oportunamente na mente dos fiéis os princípios da fé católica, para que lancem nela profundas raízes e nela se conservem ao abrigo do contágio dos erros. Quanto maiores esforços fazem os inimigos da religião para ensinar aos homens sem instrução, e sobretudo aos jovens, princípios que lhes obscurecem a mente e corrompem o coração, tanto mais é precioso trabalhar ardentemente não só para fazer prosperar um hábil e sólido método de educação, mas sobretudo para não se apartar da fé católica, no ensino das letras e das ciências e em particular da filosofia, da qual depende em grande parte a verdadeira direção das outras ciências, e que, longe de tender a derrubar a divina revelação, pelo contrário, se alegra de lhe aplanar o caminho e de defendê-la contra os seus assaltantes, como pelo exemplo e pelos escritos no-lo ensinaram o grande Agostinho e o Doutor Angélico, e todos os demais mestres da sabedoria cristã.

Reforma do Lar cristão

15. Todavia, necessário se torna que, para ser uma garantia da verdadeira fé e da religião, e uma salvaguarda da integridade dos costumes, essa excelente educação da juventude comece no próprio interior da família, dessa família que, infelizmente perturbada nos tempos atuais, só pode recuperar a sua liberdade por essas leis que o próprio divino Autor lhe fixou ao instituí-la na Igreja. Jesus Cristo, com efeito, elevando à dignidade de sacramento a aliança do matrimônio, que Ele quis fazer servir a simbolizar a sua união com a Igreja, não somente tornou mais santa a ligação dos esposos, como também preparou tanto aos pais como aos filhos meios eficacíssimos próprios para lhes facilitar, pela observância dos seus deveres recíprocos, a obtenção da felicidade temporal e eterna.

16. Infelizmente, depois que leis ímpias e sem nenhum respeito pela santidade desse grande sacramento o rebaixaram à mesma categoria dos contratos civis, tem sucedido que, profanando a dignidade do matrimônio cristão, cidadãos tenham adotado o concubinato legal ao invés das núpcias religiosas; esposos têm descurado os deveres da fé que se haviam prometido, filhos têm recusado aos pais a obediência e o respeito que lhes deviam, os laços da caridade doméstica têm-se afrouxado, e, o que é bem triste exemplo e mui prejudicial aos costumes públicos, a um amor insensato muitíssimas vezes têm sucedido separações funestas e perniciosas. Impossível é, Veneráveis Irmãos, que a vista dessa miséria e dessas calamidades lamentáveis não excite o Vosso zelo e não nos induza a, com cuidado e sem tréguas, exortar os fiéis confiados à Vossa guarda a prestarem ouvido dócil aos ensinamentos que se relacionam com a santidade do matrimônio cristão, e a obedecerem às leis da Igreja que regulam os deveres dos esposos e dos filhos.

Reforma dos costumes públicos

17. Assim é que conseguireis essa reforma tão desejável dos costumes e do modo de viver de cada homem em particular, porquanto, assim como de um tronco apodrecido não podem brotar senão galhos estragados e frutos pecos, assim também por um triste contágio essa funesta chaga que corrompe as famílias estende-se a todos os cidadãos e torna-se um mal e um defeito comum. Ao contrário, uma vez moldada a sociedade doméstica a uma forma de vida cristã, cada membro se acostumará pouco a pouco a amar a religião e a piedade, a detestar as falsas e perniciosas doutrinas, a praticar a virtude, a obedecer aos seus superiores e a reprimir essa procura insaciável do interesse puramente privado que tão profundamente abaixa e enerva a natureza humana. Um bom meio para realizar este objetivo será dirigir e incentivar essas pias associações que, mormente nestes tempos de agora, têm sido mais particularmente instituídas para favorecer os interesses católicos.

18. Em verdade, Veneráveis Irmãos, grandes coisas, coisas mesmo superiores às forças humanas são as que Nós assim abraçamos com os Nossos votos e com as Nossas esperanças; mas, como Deus fez as nações do mundo curáveis e fundou a sua Igreja para a salvação dos povos, prometendo assisti-la até à consumação dos séculos, temos a firme confiança de que o gênero humano, ferido por tantos males e calamidades, graças aos Vossos esforços acabará buscando a salvação e a prosperidade na submissão à Igreja e no magistério infalível desta Cátedra Apostólica.

CONCLUSÃO

Regozijo pela união e concórdia entre Bispos

19. E agora, Veneráveis Irmãos, antes de encerrarmos esta carta, sentimos a necessidade de participar-vos a Nossa alegria ao vermos a união admirável e a concórdia que reinam entre Vós e Vos unem tão perfeitamente a esta Sé Apostólica, e em verdade ficamos persuadidos de que essa perfeita união é não somente um baluarte inexpugnável contra os assaltos dos inimigos, mas é ainda um presságio feliz e próspero de tempos melhores para a Igreja; ela proporciona um grande alívio à Nossa fraqueza, e levanta, assim, de maneira feliz o Nosso espírito, ajudando-Nos a sustentar com ardor, no difícil múnus que havemos recebido, todas as fadigas e todos os combates pela Igreja de Deus.

Agradecimento pelas declarações de amor e obediência

20. Também não podemos separar dessas causas de esperanças e de alegria que acabamos de Vos manifestar, essas declarações de amor e de obediência que, nestes primórdios do Nosso pontificado, Vós, Veneráveis Irmãos, haveis formulado à Nossa humilde pessoa, e que também Nos têm sido feitas por tantos eclesiásticos e fiéis, provando assim pelas cartas enviadas, pelas larguezas recolhidas, pelas peregrinações realizadas e por tantas outras provas de piedade, que essa devoção e essa caridade que eles não haviam cessado de testemunhar ao Nosso digno Predecessor permaneceram tão firmes, tão estáveis e tão íntegras, que se não arrefeceram à vinda de um sucessor tão pouco digno dessa herança. À vista de testemunhos tão esplêndidos da fé católica, devemos humildemente confessar que o Senhor é bom e benevolente, e a Vós, Veneráveis Irmãos, e a todos esses filhos queridos de quem as havemos recebido, exprimimos os numerosos e profundos sentimentos de gratidão que inundam o nosso coração, cheios de confiança de que, na angústia e nas dificuldades dos tempos atuais, o Vosso zelo e o Vosso amor, bem como os dos fiéis, jamais Nos faltarão. Tão pouco duvidamos de que esses notáveis exemplos de piedade filial e de virtude cristã contribuam poderosamente para tocar o coração do Deus misericordiosíssimo, e para o fazer deitar um olhar de benevolência sobre o seu rebanho e conceder à Igreja a paz e a vitória. E, como estamos convencido de que essa paz e essa vitória Nos serão mais pronta e mais facilmente concedidas se os fiéis dirigirem constantemente a Deus preces e votos para lhas pedir, vivamente Vos exortamos, Veneráveis Irmãos, a excitardes com esse fim o zelo dos fiéis, concitando-os a empregarem como mediadora junto a Deus a Imaculada Rainha dos Céus, e como intercessores S. José, padroeiro celeste da Igreja, e os santos apóstolos Pedro e Paulo, a cujo poderoso patrocínio recomendamos a nossa humilde pessoa, todas as ordens da hierarquia eclesiástica, e todo o rebanho do Senhor.

Votos e bênção Apostólica

21. Finalmente, desejamos que estes dias em que festejamos o solene aniversário da ressurreição de Jesus Cristo sejam, para Vós e para todo o rebanho do Senhor, felizes, salutares e cheios de santa alegria, pedindo a Deus, que é tão bom, apague as faltas que havemos cometido e nos faça misericordiosamente remissão da pena que elas Nos mereceram, e isso pela virtude desse Sangue do Cordeiro imaculado que apague a sentença lavrada contra nós (Col 2, 14).

22. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, a caridade de Deus e a comunicação do Espírito Santo sejam com todos vós (2 Cor 13, 13), Veneráveis Irmãos, e é de todo coração que, a Vós e a cada um em particular, bem como aos Nossos caros filhos o clero e os fiéis de vossas Igrejas, concedemos a bênção apostólica como penhor da Nossa especial benevolência e como presságio da proteção celeste.

Dado em Roma, junto a S. Pedro, no dia solene de Páscoa, a 21 de abril do ano de 1878, primeiro ano do Nosso Pontificado.

 

LEÃO XIII, PAPA

 

P.S OS GRIFOS SÃO MEUS


FONTE: Inscrutabili dei consilio: sobre os males da Sociedade moderna, suas causas e seus remédios (21 de abril de 1878) | LEÃO XIII (vatican.va)

segunda-feira, 1 de abril de 2024

IGREJA: MENSAGEM URBI ET ORBI DO PAPA FRANCISCO

 


MENSAGEM URBI ET ORBI
DO PAPA FRANCISCO

PÁSCOA 2024

Balcão central da Basílica Vaticana
Domingo, 31 de março de 2024



Queridos irmãos e irmãs, Feliz Páscoa!

Hoje ressoa em todo o mundo o anúncio que partiu de Jerusalém há dois mil anos: "Jesus de Nazaré, o crucificado, ressuscitou!" (cf. Mc 16, 6).

A Igreja revive o espanto das mulheres que foram ao sepulcro na madrugada do primeiro dia da semana. O túmulo de Jesus tinha sido fechado com uma grande pedra; e assim, ainda hoje, pedras pesadas, demasiadamente pesadas, fecham as esperanças da humanidade: a pedra da guerra, a pedra das crises humanitárias, a pedra das violações dos direitos humanos, a pedra do tráfico de pessoas e outras. Nós também, como as mulheres discípulas de Jesus, perguntamo-nos uns aos outros: "Quem irá remover estas pedras para nós?" (cf. Mc 16, 3).

E eis a sua descoberta na manhã de Páscoa: a pedra, aquela grande pedra, já havia sido removida. O espanto das mulheres é o nosso espanto: o túmulo de Jesus está aberto e vazio! É aqui que tudo começa. Através desse túmulo vazio passa o novo caminho, o caminho que nenhum de nós, mas somente Deus, poderia abrir: o caminho da vida em meio à morte, o caminho da paz em meio à guerra, o caminho da reconciliação em meio ao ódio, o caminho da fraternidade em meio à inimizade.

Irmãos e irmãs, Jesus Cristo ressuscitou, e somente Ele é capaz de remover as pedras que fecham o caminho para a vida. De fato, Ele mesmo, o Vivente, é o Caminho: o Caminho da vida, da paz, da reconciliação, da fraternidade. Ele nos abre a passagem, algo humanamente impossível, porque somente Ele tira o pecado do mundo e perdoa os nossos pecados. E sem o perdão de Deus, essa pedra não pode ser removida. Sem o perdão dos pecados, não se consegue sair dos fechamentos, dos preconceitos, das suspeitas mútuas e das presunções, que sempre levam a absolver a si mesmo e acusar os outros. Somente o Cristo Ressuscitado, ao dar-nos o perdão dos pecados, abre o caminho para um mundo renovado.

Somente ele nos abre as portas da vida, aquelas portas que fechamos continuamente com as guerras que se alastram pelo mundo. Hoje voltamos nosso olhar, em primeiro lugar, para a Cidade Santa de Jerusalém, testemunha do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus, e para todas as comunidades cristãs da Terra Santa.

Meu pensamento se dirige, sobretudo, às vítimas dos muitos conflitos em andamento no mundo, a começar pelos que ocorrem em Israel, na Palestina e na Ucrânia. Que o Cristo Ressuscitado abra um caminho de paz para as populações atormentadas dessas regiões. Ao mesmo tempo que convido a que sejam respeitados os princípios do direito internacional, espero que haja uma troca geral de todos os prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia: todos por todos!

Além disso, faço novamente um apelo para que seja garantido o acesso da ajuda humanitária a Gaza e insisto, uma vez mais, na pronta libertação dos reféns sequestrados em 7 de outubro e em um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.

Não permitamos que as hostilidades em andamento continuem a afetar seriamente a população civil, já exausta, especialmente as crianças. Quanto sofrimento vemos nos olhos das crianças! Aquelas crianças, nas terras onde há guerras, já se esqueceram como se sorri. Com o seu olhar nos perguntam: Por quê? Por que tanta morte? Por que tanta destruição? A guerra é sempre um absurdo, a guerra é sempre uma derrota! Não permitamos que ventos de guerra cada vez mais fortes soprem sobre a Europa e o Mediterrâneo. Não nos rendamos à lógica das armas e do rearmamento. A paz nunca é construída com armas, mas estendendo nossas mãos e abrindo nossos corações.

Irmãos e irmãs, não nos esqueçamos da Síria, que vem sofrendo as consequências de uma guerra longa e devastadora há treze anos. Tantos mortos, pessoas desaparecidas, tanta pobreza e destruição estão esperando por respostas de todos, inclusive da comunidade internacional.

Meu olhar hoje se dirige de modo especial ao Líbano, que há muito tempo vem sendo afetado por um bloqueio institucional e por uma profunda crise econômica e social, agora agravada pelas hostilidades na fronteira com Israel. Que o Senhor Ressuscitado conforte o amado povo libanês e sustente todo o país em sua vocação de ser uma terra de encontro, coexistência e pluralismo.

Dirijo um pensamento especial à região dos Bálcãs Ocidentais, onde estão sendo dados passos significativos para a integração no projeto europeu: que as diferenças étnicas, culturais e confessionais não sejam uma causa de divisão, mas se tornem uma fonte de enriquecimento para toda a Europa e para o mundo inteiro.

Da mesma forma, encorajo as conversações entre a Armênia e o Azerbaijão, para que, com o apoio da comunidade internacional, se possa continuar o diálogo, ajudar os deslocados, respeitar os locais de culto das diferentes denominações religiosas e chegar a um acordo de paz definitivo o mais rápido possível.

Que o Cristo Ressuscitado abra um caminho de esperança às pessoas que, em outras partes do mundo, sofrem com a violência, os conflitos, a insegurança alimentar e os efeitos das mudanças climáticas. Que o Senhor conceda conforto às vítimas de todas as formas de terrorismo. Oremos pelos que perderam suas vidas e imploremos arrependimento e conversão para os autores de tais crimes.

Que o Senhor Ressuscitado ajude o povo haitiano, para que a violência, que derrama sangue e dilacera o País, possa cessar o mais rápido possível e que se possa progredir no caminho da democracia e da fraternidade.

Que Ele dê conforto aos Roingas, afligidos por uma grave crise humanitária, e abra o caminho da reconciliação em Mianmar, dilacerado por anos de conflito interno, a fim de que toda lógica de violência seja definitivamente abandonada.

Que o Senhor abra caminhos de paz no continente africano, especialmente para as populações provadas no Sudão e em toda a região do Sahel, no Chifre da África, na região de Kivu, na República Democrática do Congo, e na província de Cabo Delgado, em Moçambique, e ponha fim à prolongada situação de seca que afeta vastas áreas e causa fome e carestia.

Que o Ressuscitado faça resplandecer a sua luz sobre os migrantes e aqueles que estão passando por dificuldades econômicas, oferecendo-lhes conforto e esperança em seus momentos de necessidade. Que Cristo guie todas as pessoas de boa vontade a se unirem em solidariedade, para enfrentarem juntas os muitos desafios que as famílias mais pobres enfrentam em sua busca por uma vida melhor e pela felicidade.

Neste dia em que celebramos a vida que nos foi dada na ressurreição do Filho, lembremo-nos do amor infinito de Deus por cada um de nós: um amor que supera todos os limites e todas as fraquezas. No entanto, quão frequentemente a preciosa dádiva da vida é desprezada! Quantas crianças não conseguem sequer ver a luz? Quantas morrem de fome, ou são privadas de cuidados essenciais, ou são vítimas de abuso e violência? Quantas vidas são mercantilizadas pelo crescente comércio de seres humanos?

Irmãos e irmãs, no dia em que Cristo nos libertou da escravidão da morte, exorto aqueles com responsabilidade política a não pouparem esforços no combate ao flagelo do tráfico humano, trabalhando incansavelmente para desmantelar suas redes de exploração e trazer liberdade àqueles que são suas vítimas. Que o Senhor console suas famílias, especialmente aquelas que aguardam ansiosamente notícias de seus entes queridos, assegurando-lhes conforto e esperança.

Que a luz da ressurreição ilumine nossas mentes e converta nossos corações, conscientizando-nos do valor de toda vida humana, que deve ser acolhida, protegida e amada.

Feliz Páscoa a todos!


OBS: Os Destaques são meus.

FONTE:  "Urbi et Orbi" - Páscoa 2024 | Francisco (vatican.va)

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

IGREJA: MENSAGEM URBI ET ORBI DO PAPA FRANCISCO

 



MENSAGEM URBI ET ORBI
DO PAPA FRANCISCO

NATAL 2023

Segunda-feira, 25 d

e dezembro de 2023

 

Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!

O olhar e o coração dos cristãos de todo o mundo estão voltados para Belém; lá, onde nestes dias reinam a dor e o silêncio, ressoou o anúncio esperado há séculos: «Nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lc 2, 11). Trata-se das palavras do anjo no céu de Belém, que são dirigidas também a nós. Enche-nos de confiança e esperança saber que o Senhor nasceu para nós; que a Palavra eterna do Pai, o Deus infinito, fixou a sua morada entre nós. Fez-Se carne, veio «habitar connosco» (Jo 1, 14): esta é a notícia que muda o curso da história!

O anúncio de Belém é o anúncio duma «grande alegria» (Lc 2, 10). Qual alegria? Não a felicidade passageira do mundo, nem a alegria da diversão, mas uma alegria «grande» porque nos faz «grandes». De facto hoje nós, seres humanos, com as nossas limitações, abraçamos a certeza duma esperança inaudita: a esperança de termos nascido para o Céu. Sim, Jesus nosso irmão veio fazer do Seu Pai o nosso Pai: Menino frágil, revela-nos a ternura de Deus e muito mais… Ele, o Unigénito do Pai, dá aos homens o «poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 12). Eis a alegria que consola o coração, renova a esperança e dá a paz: é a alegria do Espírito Santo, a alegria de ser filhos amados.

Irmãos e irmãs, hoje em Belém, por entre as trevas da terra, acendeu-se esta chama inextinguível; hoje, sobre as trevas do mundo, prevalece a luz de Deus, que «a todo o homem ilumina» (Jo 1, 9). Irmãos e irmãs, alegremo-nos por esta graça! Alegra-te, tu que te vês falho de confiança e de certezas, porque não estás sozinho, não estás sozinha: Cristo nasceu para ti! Alegra-te, tu que perdeste a esperança, porque Deus te estende a mão: não aponta o dedo contra ti, mas oferece-te a sua mãozinha de Menino para te libertar dos medos, aliviar-te das canseiras e mostrar-te que, aos olhos d’Ele, vales mais do que qualquer outra coisa. Alegra-te, tu que tens a paz no coração, porque se cumpriu para ti a antiga profecia de Isaías: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado (…) e o seu nome é: (…) Príncipe da paz» (9, 5). A Sagrada Escritura revela que a sua paz, o seu reino «não terá fim» (9, 6).

Na Bíblia, ao Príncipe da paz opõe-se o «príncipe deste mundo» (Jo 12, 31), que, semeando a morte, atua contra o Senhor, «amante da vida» (Sab 11, 26). Vemo-lo atuar em Belém, quando, depois do nascimento do Salvador, se verifica a matança dos inocentes. Quantas matanças de inocentes no mundo! No ventre materno, nas rotas dos desesperados à procura de esperança, nas vidas de muitas crianças cuja infância é devastada pela guerra. São os pequeninos Jesus de hoje, estas crianças cuja infância é devastada pela guerra, pelas guerras.

Deste modo dizer «sim» ao Príncipe da paz significa dizer «não» à guerra. E isto com coragem: dizer «não» à guerra, a toda a guerra, à própria lógica da guerra, que é viagem sem destino, derrota sem vencedores, loucura indesculpável. Isto é a guerra: viagem sem destino, derrota sem vencedores, loucura indesculpável. Mas, para dizer «não» à guerra, é preciso dizer «não» às armas. Com efeito, se o homem, cujo coração é instável e está ferido, encontrar instrumentos de morte nas mãos, mais cedo ou mais tarde usá-los-á. E como se pode falar de paz, se cresce a produção, a venda e o comércio das armas? Hoje, como no tempo de Herodes, as conspirações do mal, que se opõem à luz divina, movem-se à sombra da hipocrisia e do escondimento. Quantos massacres armados acontecem num silêncio ensurdecedor, ignorados de tantos! O povo, que não quer armas mas pão, que tem dificuldade em acudir às despesas quotidianas, ignora quanto dinheiro público é destinado a armamentos. E, contudo, devia sabê-lo! Fale-se disto, escreva-se sobre isto, para que se conheçam os interesses e os lucros que movem os cordelinhos das guerras.

Isaías, que profetizara o Príncipe da paz, deixou escrito que virá um dia em que «uma nação não levantará a espada contra outra»; um dia em que os homens «não se adestrarão mais para a guerra», mas «transformarão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices» (2, 4). Com a ajuda de Deus, esforcemo-nos para que se aproxime esse dia!

Aproxime-se em Israel e na Palestina, onde a guerra abala a vida daquelas populações. A todas abraço, em particular às comunidades cristãs de Gaza – à paróquia de Gaza – e de toda a Terra Santa. Trago no coração a dor pelas vítimas do execrável atentado de 7 de outubro passado, e renovo um premente apelo pela libertação de quantos se encontram ainda reféns. Suplico que cessem as operações militares, com o seu espaventoso rasto de vítimas civis inocentes, que se ponha remédio à desesperada situação humanitária, possibilitando a entrada das ajudas. Não se continue a alimentar violência e ódio, mas avance-se no sentido duma solução para a questão palestiniana, através dum diálogo sincero e perseverante entre as Partes, sustentado por uma forte vontade política e pelo apoio da comunidade internacional. Irmãos e irmãs, rezemos pela paz na Palestina e em Israel.

Depois o meu pensamento volta-se para a população da atribulada Síria, bem como para a do Iémen, mergulhada no sofrimento. Penso no amado povo libanês e rezo para que possa em breve encontrar estabilidade política e social.

Com os olhos fixos no Menino Jesus, imploro a paz para a Ucrânia. Renovemos a nossa proximidade espiritual e humana ao seu martirizado povo, para que, graças ao apoio de cada um de nós, possa sentir o amor concreto de Deus.

Aproxime-se o dia da paz definitiva entre a Arménia e o Azerbaijão. Seja ela favorecida através da prossecução das iniciativas humanitárias, o regresso dos deslocados às suas casas na legalidade e em segurança, e o respeito mútuo pelas tradições religiosas e locais de culto de cada comunidade.

Não esqueçamos as tensões e os conflitos que transtornam a região do Sahel, o Corno de África, o Sudão, bem como os Camarões, a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul.

Aproxime-se o dia em que serão reforçados os laços fraternos na península coreana, abrindo percursos de diálogo e reconciliação que possam criar as condições para uma paz duradoura.

O Filho de Deus, feito humilde Menino, inspire as autoridades políticas e todas as pessoas de boa vontade do continente americano para se encontrarem soluções idóneas a fim de superar os dissídios sociais e políticos, lutar contra as formas de pobreza que ofendem a dignidade das pessoas, aplanar as desigualdades e enfrentar o doloroso fenómeno das migrações.

Reclinado no presépio, o Menino pede-nos para sermos voz de quem não tem voz: a voz dos inocentes, que morreram por falta de água e pão; voz de quantos não conseguem encontrar emprego ou que o perderam; voz de quem é constrangido a abandonar a sua terra natal à procura dum futuro melhor, arriscando a vida em viagens extenuantes e à mercê de traficantes sem escrúpulos.

Irmãos e irmãs, aproxima-se o tempo de graça e esperança do Jubileu, que vai começar dentro de um ano. Que este período de preparação seja ocasião para converter o coração; para dizer «não» à guerra e «sim» à paz; responder com alegria ao convite do Senhor que nos chama, como profetizou Isaías, «para levar a boa-nova aos pobres, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros» (61, 1).

Estas palavras cumpriram-se em Jesus (cf. Lc 4, 18), hoje nascido em Belém. Acolhamo-Lo, abramos o coração a Ele, o Salvador! Abramos o coração a Ele, o Salvador, que é o Príncipe da paz!

FONTE: Mensagem de Natal e Bênção “Urbi et Orbi” 2023 | Francisco (vatican.va)

domingo, 17 de dezembro de 2023

MENSAGEM DE NATAL DOS AMIGOS E AMIGAS DO APOSTOLADO DEFESA CATÓLICA

 

Prezados Amigos e Amigas, Salve Maria.

Hoje estou postando aqui em Nosso Blog Defesa Católica, a minha mensagem de natal de Natal e também a de Nossas Amigas de Qualidade:  Dona Vera Lúcia, e a Luciclecia

Confiram!



A época natalina não é sobre presentes, é sobre presença. Aquilo que podemos oferecer de mais importante aos outros é nossa atenção, nossa amizade verdadeira e nosso amor incondicional.

 

O meu maior desejo é que neste Natal possamos irradiar luz e calor para aqueles que nos rodeiam, como estrelas que brilham no céu uns dos outros.

 

Não existe nada mais especial do que juntar a família, trocar presentes e palavras carinhosas. Neste Natal de 2023, estamos gratos a Deus por tudo o que nos foi dado e, principalmente, pelo enorme amor que nos une o ano inteiro. Um Natal feliz e próspero para todo mundo!





domingo, 10 de dezembro de 2023

VÍDEO DO APOSTOLADO: BALANÇO DO APOSTOLADO DEFESA CATÓLICA 2023

 


Prezados Irmãos e Irmãs, Salve Maria!


Em mais este vídeo, comento a respeito de Nosso Balanço de 2023 e o que pode vir em 2024!


Confiram!